Sobre o Espetáculo
Um
espetáculo delicado. Triste.
O lugar
teatral escolhido vem corroborar com a minha convicção que não se trata de um
espaço alternativo ou mesmo espaço inusitado. Mas de um lugar teatral outro. Uma
vez que os signos do teatro estão lá e suas traquitanas também.
A
proposta cênica de Fabio é rigorosa e presente na cena. Não se esconde durante
o espetáculo e faz fluir. Dialoga com os atores e com a cena proposta. A
encenação faz emergir um conjunto naif de imagens.
A
cenografia metateatral envolve a proposta de hibridizar memórias espaciais. Ela
é correta e coerente com o espetáculo.
Carloman
desenvolve a personagem gestualmente contida e busca dar densidade ao trabalho
fundado no rigor corporal e acompanhado pelas modulações (sutis) sonoras que
espacializam a sala, tornando-a maior ou menor, na percepção do espectador.
Ludmila segue a mesma indicação da direção, todavia, ela escapa e parece borrar
este arcabouço da armadura da composição da personagem. Nesses momentos o
espectador fica magnetizado pela sua preciosa atuação. Sem, contudo deixar ou
se antagonizar com a proposta da direção. Apenas faz pulsar a personagem noutra
sonoridade. Ambos Carloman e Ludmila reluzem em cena. Expostos aos espectadores
conseguem transitar entre a interpretação naturalista, contida pela dinâmica
espacial e a teatral. O publico voyeur observa. Não há diálogo entre os
espectadores e a cena claustrofóbica na sala do apartamento. Um trabalho
refinado dos artistas e permeado de sutilezas
Por
fim, um espetáculo denso, coeso acerca daquilo que não se altera no tempo - a
incomunicabilidade.
José Simões de Almeida Júnior
Dr. em pedagogia teatral, professor de Teatro da
Faculdade de Educação da UFMG. (16/02/2012)
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